Hempire deixa você ser o magnata da maconha em um mundo onde a droga é legalizada
No último dia 14 de maio, uma das principais vias de São Paulo, a Av. Paulista, foi ocupada por cerca de 20 mil pessoas que pediam a legalização da maconha, segundo dados do próprio grupo, o coletivo Marcha da Maconha. No Brasil, você não pode ser condenado por fumar maconha, mas a posse e o cultivo continuam sendo ilegais. Hempire, jogo do estúdio Lumentech, de Aracaju, imagina o cenário reivindicado por movimentos sociais que lutam pela descriminalização da droga: um no qual pessoas são livres para cultivar e vender a cannabis.
“No mundo de Hempire, a venda de maconha é legalizada”, diz Tiago Melo, fundador da Lumentech. “Os jogadores não vão lidar com traficantes ou precisar subornar policiais, por exemplo. O jogo também foge do estereótipo do usuário drogado, ao apresentar pessoas comuns como consumidoras de maconha — e dos vários subprodutos que o jogador vai poder produzir.”
Melo nega que Hempire tenha um papel educativo, mas concorda que ele pode ajudar a ampliar as discussões com relação ao plantio e consumo de maconha e minimizar o tabu, seja para uso recreativo ou medicinal. “O Hempire pode se tornar uma poderosa ferramenta para ampliar as discussões sobre a legalização da maconha”, opina. “Apesar disso, não levamos isso em conta no desenvolvimento, pois o foco é criar um jogo empolgante e cativante.”
O título free-to-play é focado no processo de cultivo, colheita e venda da cannabis. Além de lidar com diversas espécies e extratos da planta, o jogador pode combiná-los para criar variações de diferentes graus de raridade, que oferecem ao consumidor sensações e sabores distintos. Para agradar a clientela e aumentar a fonte de renda, também é possível preparar algumas iguarias como cookies e bolinhos de maconha — os famosos space cakes. Hempire também aborda “aspectos importantes da erva, como a produção de medicamentos que podem salvar vidas”, diz Melo.
Levar a empresa adiante envolve não apenas compreender o comportamento e necessidades das plantas, que exigem diferentes graus de iluminação e temperatura, mas também se relacionar com as pessoas certas na cidade, incluindo políticos e empresários.
“Você começa com poucos espaços e poucas variedades de maconha para plantar, e precisa melhorar sua reputação com outros personagens para crescer”, explica Melo. “O gameplay é similar a outros jogos de fazenda e cada variedade tem necessidades de água e tempos de crescimento distintos. Tudo isso influencia no valor de mercado de cada colheita.”
Melo afirma que o processo de cultivo dentro do jogo não é exatamente realista, uma vez que as mecânicas foram construídas de forma que se tornassem divertidas e envolventes ao jogador. Mas, em essência, os procedimentos da plantação de maconha estão lá.
Mas considerando a ilegalidade do cultivo e venda de maconha na esmagadora maioria dos países, incluindo o Brasil, e o tabu que o assunto gera entre boa parte da população, Hempire em si poderia ser um produto de difícil comercialização? Melo acredita que não. “Maconha é uma mercadoria extremamente popular, mesmo tendo sua comercialização proibida em vários países. Por isso, é relativamente um produto de nicho, que fará um sucesso grande com os apoiadores da causa. Mesmo assim, toda a produção do jogo é direcionada para criar um game que possa ser jogado por todos, incluindo famílias e pessoas que não apoiam diretamente a legalização.”
Embora a Lumentech seja a desenvolvedora de Hempire, o projeto foi idealizado por uma equipe em Vancouver. “Nós fomos contratados como a desenvolvedora do projeto, mas todos os direitos são deles”, explica Melo, que disse não poder revelar o nome da empresa canadense que contratou seu estúdio. E, de fato, por ora, não há nenhum sinal desta empresa, que sequer é mencionada em seu site oficial.
Hempire está previsto para o final de 2016, em versões para iOS e Android.