Jogos localizados ainda no Switch, propagandas na TV: os passos da reaproximação da Nintendo com o Brasil

A presença da Nintendo na Brasil Game Show deste ano foi diferente da de 2018. No ano passado, a empresa tinha jogos como Pokémon Let’s Go e Super Smash Bros. Ultimate - na ocasião inéditos - em uma sala pequena, à parte do pavilhão e sem acesso do público da feira. Já em 2019, a Nintendo apareceu com um grande estande com pôsteres para quem jogava, a possibilidade de fãs tirarem uma foto impressa na hora com um fundo de Pokémon Sword & Shield e diversos títulos, sendo que um deles, Luigi’s Mansion 3, ainda não foi lançado.

Ainda não temos nenhum anúncio de lançamento oficial do Nintendo Switch no Brasil ou de jogos traduzidos para a nossa língua, de longe a coisa mais requisitada por jogadores. Porém, a impressão tida pela presença da empresa no evento e pela conversa com Romina Whitlock, gerente de marketing da Nintendo para a América Latina, é a de que há uma reaproximação com o Brasil, mesmo que de maneira cautelosa.

Um exemplo disso é o fato de que propagandas de jogos da Nintendo estão ganhando versões em português. Comerciais de The Legend of Zelda: Link’s Awakening e Fire Emblem: Three Houses em nossa língua têm passado em lugares como a Twitch e estarão presentes em outros locais nos próximos meses, algo que não acontecia há um bom tempo. “Que bom que você notou isso!,” comentou Romina. “Isso é algo novo. Uma das coisas que estamos trabalhando em meu departamento é publicidade e promoções, e localizando essas promoções. Então sim, nós demos início e continuaremos a fazer isso. Você também encontrará esses comerciais na TV neste fim de ano.” Além de Zelda, propagandas para Pokémon Sword & Shield também serão veiculadas.

Os cartões pré-pagos de jogos para o Switch, anunciados durante a BGS do ano passado e até então vendidos em algumas unidades das Lojas Americanas, existirão em maior disponibilidade. “Os cartões pré-pagos tiveram um início limitado, pois estavam disponíveis apenas em cerca de 300 lojas físicas. Mas agora, neste fim de ano, estamos expandindo para todas as Lojas Americanas em todo o país e também passaremos a vender os cartões na Magazine Luiza.”

A Loja Nintendo, apesar de não ser uma loja completa, pelo menos oferece alguma forma de pagamento local, não só para quem tem um cartão de crédito internacional. É claro que nós queremos que haja um eShop [brasileiro], queremos tudo, mas é um trabalho em progresso

Atualmente, pagando em Real, além de jogos físicos a outra possibilidade é a Loja Nintendo, um site que vende alguns títulos de Switch enviados como códigos após a compra. A Loja Nintendo cresceu um pouco de um ano para cá. Ela agora recebe jogos mais rapidamente e tem funcionalidades que inicialmente não estavam presentes, como a possibilidade de se adquirir um título em pré-venda. Apesar disso, o site não substitui um eShop funcional, mas infelizmente não parece que veremos uma versão brasileira da loja digital tão cedo. “A Loja Nintendo foi bem especial porque, apesar de não ser uma loja completa, nós queríamos pelo menos oferecer alguma forma de pagamento local, abrir as portas para todos, não só para quem tem um cartão de crédito internacional. É claro que nós queremos que haja um eShop [brasileiro], nós queremos tudo, mas é um trabalho em progresso”.

A Loja Nintendo vende os jogos da Nintendo de US$ 60 por R$ 250,79, mais ou menos uma conversão direta. A dúvida é se, diante da mudança constante do valor de nossa moeda, o preço desses títulos poderia mudar em um futuro próximo. Romina não pôde dizer com certeza absoluta, mas não acredita ser o caso. “Essas decisões saem do Japão e eu acho - eu não posso dizer com certeza - que existem algumas proteções em termos de efeitos de conversão. Uma coisa que não queremos fazer, porque interrompe até mesmo nosso processo interno, é ficar alterando o preço o tempo todo. Essas decisões não acontecem no meu departamento na Nintendo então eu não sei quando que eles tomam essas decisões. Quanto a 3rd Parties, nós fazemos o que as publishers pedem que façamos, então se há uma mudança em um jogo 3rd Party, é porque a publisher pediu por isso.”

A gerente não comentou sobre números específicos, mas afirmou que dentre os países que receberam a Loja Nintendo - além de nós, isso ocorreu também no Peru, Colômbia, Chile e Argentina - a reação do Brasil tem sido a maior, “sempre que temos um lançamento o Brasil é o país que reage primeiro, que tem mais vendas. Isso é em parte por conta do tamanho dele, mas eu também sinto que a velocidade da reação é bem forte. Então os resultados têm sido muito bons e os cartões pré-pagos também.”

Sobre a localização de jogos, como mencionado, a empresa não tem nenhuma novidade, algo frustrante em uma época em que até mesmo jogos pequenos corriqueiramente possuem a opção da nossa língua. “Neste ano nós não temos nada localizado para o português do Brasil, mas isso é no Switch. Se você pensar em outra plataforma, como mobile, nós temos Mario Kart Tour que é totalmente localizado, Fire Emblem Heroes veio localizado. O modo como funciona em nossa empresa é que temos certos recursos e a gerência decide onde alocar esses recursos. Neste ano eles foram mais para os jogos mobile. Mas posso dizer que temos parte da equipe de localização trabalhando no estande este ano, e parte disso é para mostrar para eles o amor [do público] e a necessidade [da localização] também.”

Neste ano nós não temos nada localizado para o português do Brasil no Switch. Mas posso dizer que temos parte da equipe de localização trabalhando no estande este ano, e parte disso é para mostrar para eles o amor [do público] e a necessidade [da localização] também.

Pergunto então se ela acredita que ainda no tempo de vida do Switch veremos títulos em português, ao que, após titubear por um segundo, ela responde “sim. No tempo de vida do Switch sim”. Porém, complementa “eu espero que o Switch tenha uma longa vida, nós ainda só estamos falando do início dele, eu espero que ainda tenhamos muitos anos, mas nós queremos não apenas localização para o português do Brasil, queremos espanhol da América Latina também.” Ou seja, não leia com isso de que há planos concretos para a localização de jogos em um futuro próximo, mas que ao menos ela acredita que isso é algo que acontecerá em alguns anos.

Um problema comum aos Joy-Cons é o “drift” ou “drifting”, em que as alavancas não são lidas como estando na posição neutra e que leva jogos a se moverem sozinhos. Em outros países, a Nintendo mudou algumas de suas políticas e aceita consertar Joy-Cons mesmo que estejam fora de sua garantia. Não é inesperado, mas isso não deve ocorrer no Brasil. “Eu não acho que haja um plano de assistência por parte da Nintendo, porque sem hardware oficial no país é difícil haver uma assistência técnica. Até mesmo em termos de certificação para peças de reposição, nós não temos certificação para estarmos no Brasil. A outra coisa que torna isso um pouco complicado aqui é todo o mercado cinza. Eu não sei como eles fariam para determinar o que é e não é mercado cinza, mas tudo aqui é considerado mercado cinza porque não estamos oficialmente no país. Eu acho que seria difícil termos uma assistência oficial sem termos antes um console oficialmente por aqui.”

Sempre que temos um lançamento o Brasil é o país que reage primeiro, que tem mais vendas. Isso é em parte por conta do tamanho dele, mas eu também sinto que a velocidade da reação é bem forte.

Na ocasião do BIG 2019, ouvimos de algumas pessoas que representantes da Nintendo estavam na feira olhando o desenvolvimento local em busca de jogos para a sua plataforma. Romina confirmou essa informação, “nós fomos até ao ‘indie show’ [BIG], nós estamos procurando por desenvolvedores brasileiros. (...) Mesmo sem ter presença oficial, o departamento que cuida disso notou que tinha de vir aqui e dar uma olhada no talento local. Queremos poder abrir as portas para todo mundo, não só algumas partes do mundo, especialmente porque há tanto talento e criatividade aqui e é por isso que eles vieram [ao BIG].”

Encerrando, pergunto se ela acredita que veremos a Nintendo novamente na Brasil Game Show do ano que vem. “Se a decisão couber a mim, com certeza. Não foi fácil fazer isso acontecer, mas estou feliz de que tenha acontecido. Eu não sei prever o futuro, não posso dizer com certeza absoluta que voltaremos, mas posso dizer que queremos que isso aconteça.”

Crédito da imagem: BGS 2018